Ficar a viagem toda sem acesso ao blog foi angustiante. Mas não vou deixar de postar tudo o que que queria dividir com vocês e deixar registrado por aqui…. Mas agora vou começar de trás para frente e vamos começar com o RACE REPORT!
PRÉ-PROVA:
O despertador tocou as 4h50, estava marcado para sairmos do hotel às 5h30 para irmos andando (uns 500m) até o pier. Acordei e já era o dia, mais um dia de fazer mais um ironman (o meu 6º!). A incerteza de um Ironman que a gente pede para que dê tudo certo somado com a incerteza das condições climáticas de KONA. A ilha mágica que nos surpreende com tudo, inclusive com seus ventos e calor! Mas o pensamento que reina é: “puta merda como eu sou sortuda de estar aqui pela segunda vez e poder viver esse sonho de tatos atleta são lado da minha irmã!!” Esse pensamento me faria cruzar a linha de chegada a qualquer custo.
A caminhada é tipo a da Búzios, em Floripa. Aquele silêncio e concentração que nos deixam ainda mais ansiosa e nervosa. Antes d entrar na transição, teve uma fila para a pitura do número (era tatuagem) e depois uma fila para pesagem! Isso mesmo, acho que confundiram a modalidade esportiva, e acharam que era luta que tinham que pesar todo mundo. Mas eu só subi na balança sem a menor curiosidade do número que deu.
No Mundial o acesso as sacolas de transição é restrito, como eu já sabia disso, deixei tudo pronto na sexta para não precisar mexer nela no pré-prova. Menos uma coisa para fazer no nervosismo. Foi colocar as garrafas e o bento box na bike, calibrar os pneus e pronto!
As brasileiras se acharam e ficamos aguardando a hora de cair na água.
Tiveram quatro largadas e a geral feminina foi a última largando pontualmente as 7h10!
NATAÇÃO:
A largada além de ser de dentro da água é uns 100m para frente do pier. Pela ansiedade ficamos uns 10minutos fazendo palmateio e boiando até ouvir o tiro do canhão. Como foi largada geral amador feminino tinha chances de achar um boa bolha para nadar, e não foi diferente!
Larguei forte mas do lado direito, o grupo mais forte estava do outro lado, como eu respiro para direita não via muito. Na metade da ida (era uma volta de 3800) eu sai da bolha que estava e busquei um grupo que estava a frente, e ali fiquei. Tinha momentos confortáveis que optava por continuar na bolha e momentos de estratégia que eu mudava de pé e forçava o ritmo. Não foi uma natação fácil, no final chegando para o pier, parecia que o mar me puxava para trás, cheguei a pedir permissão para sair do mar para ele mesmo. Tipo maluca! Mas deu certo! Saí com o tempo de 58’43”!
A T1 (transição da natação – ciclismo) foi muito rápida, ate me assustei com a sacola, só tinha a luva e óculos de sol! Me entupi de protetor (apesar de parecer que eu nem usei) e peguei a magrela. Começaria então a parte mais longa da prova…
CICLISMO:
Na palestra do Craig Alexander, na casa Flows, o técnico dele deu muitas dicas legais pré-prova, uma delas foi do início do ciclismo. Os primeiros 10km são bem intensos, curvas, pequenas subidas, torcida…. Então ele aconselhou não comer nesse inicio da bike. Foi o que eu fiz.
Esse inicio alem de ser intenso foi assustador, tem uma perna dentro da cidade que eu cheguei a olhar meu freio se estava pegando, tava pedalando travada demais, mas comecei a reparar que até os grandões que me passavam também estavam “lerdos”, graças a deus no retorno o negócio fluiu e começou a prova. (fiquei bem tensa, se fosse aquele ritmo terminaria o pedal para 7h, o que não foi muiiiito diferente).
O começo da Queen K, foi bem “gostoso”, o técnico da Yana acompanhava o tempo e o vento e avisou que no final do ciclismo, pela previsão, seria muito difícil por conta do vento. Foi bem bom eu ter isso em mente, pq quando o vento estava a favor eu aproveitava sabendo que mais para frente teria que ter paciência quando o vento virasse.
Mas o vento deu as caras antes. Antes mesmo de chegarmos no Hawi, com 50km de prova ele ja apareceu. Mas eu me sentia bem seguia fazendo meu ritmozinho. Algumas brasileiras já haviam me passado nessa hora, e só estava esperando a Yana me passar. A gente queria muito chegar juntas, e para esse plano dar certo, ela teria que passar no ciclismo para eu pega-la na corrida. Mas nada dela aparecer.
Cheguei no retorno da bike (que demorou para chegar rsrsrs) perto das 3h de ciclismo. Vi que o dia seria longo. No retorno com uns 5km ou menos já cruzei com a Yana. Então eu forcei o ritmo e aproveite a descida e vento a favor para ela me passar so mais para frente (se não eu teria que me matar para alcança-a na corrida). Saí do Hawi estava me sentindo ótima, faltava mais ou menos 60km para terminar os 180km. Nada da Yana. Segui no ritmo.
Com 144km de prova furou o meu pneu. Quando eu falo que a prova foi desenhada por deus, até isso estava no plano. Eu estava com um roda de trás emprestada de um amigo que era clincher, ou seja, só precisava trocar a câmara. Ótimo sinal, porque a roda da frente era do meu mecânico e era pneu tubular, não levei pneu extra so fui com o pitstop. Como só faltava 30km, gastei o pitstop para ver se funcionaria, e andei mais 3km. 🙁
Nada feito, vamos parar e trocar isso ai! Parei e com toda a calma desse mundo, comecei a trocar a roda. Juro que eu nao chorei, nem fiquei nervosa, eu acho que eu estava tão bem e tão feliz que nem o pneu furado me abalou. Nessa hora a Yana passou e perguntou se eu precisava de algo, pedi para ela seguir pq eu estava super bem e já tinha tudo o que eu precisava (caro engano).
Depois de uns 3′ parada, chegou o apoio da prova, para a minha sorte. O mecânico queria super me ajudar e fazer tudo muito rápido, mas quanto mais rápido ele fazia mas atrapalhado ele era. Enquanto um apoio segurava minha bike e conversava comigo, o mecânico se batia com o bico da camara. Eu não levei prolongador para encher o pneu, santo apoio que parou!
Ele trocou o pneu e eu fui, sorte que eu guardei o gás e a camara extra.
Voltei para a prova animada, mas a roda parecia que estava quadrada, acho que a camara ficou torta, não sei o que pode ter acontecido, mas pelo menos o pneu estava cheio e fui assim mesmo.
Foi bem bom pq eu passava muita gente. Faltavam 30km para terminar a bike, eu estava feliz, andando bem, com a alimentação direitinha. Comecei a chegar nas mulheres que estavam andando comigo no Hawi. um bom sinal, podia estar chegando na Yana!
Mas no final da bike, faltando 2km para a transição o pneu furou de novo. Não tinha mais pitstop e pensei em 3 opções:
- Ir pedalando com ele furado: até tentei! Mas a roda não era minha. Morri de medo de quebrar o carbono, entortar a roda. Opção excluída.
- Pensei em ir correndo alias, o que são 2 km? Desisti quando vi que estava descalço, que o chão estava fervendo e ao calcular que no total seriam 44km de corrida, sem chance.
- Opção escolhida foi parar com toda a calma do mundo e trocar o pneu.
Nessa hora apesar de eu estar na frete de um posto de hidratação da corrida e ter gente por perto, ninguém veio me ajudar. Mas troquei bem mais rápido que o mecânico e agradeci ele imensamente quando vi que tinha deixado o prolongador. Agora já pensou se tivesse furado o tubular?
Pneu trocado, hora de já pensar na corrida. Quando estava entrando no funil da transição a Yana estava saindo para correr. Fiquei bem feliz!
Fiz a transição com calma, passei protetor, peguei as comidinhas, tomei um pózinho mágico com eletrolitos e borá correr!
CORRIDA:
Delícia! Nada como colocar os pés no chão pós 180km de bike. Saí para correr bem em um ritmo 5’30 me segurando. A galera já falava que a Yana estava um pouco na frente, sabia que era só chegar nela para assim curtirmos o final da prova juntas e cruzarmos as linha de chegada de mãos dadas! O sonho mais perfeito que podíamos ter imaginado. Antes mesmo do retorno da Alii Drive, cheguei nela dando um beliscão na bunda. Ali eu fiquei e seguimos o restante da maratona juntas. Correndo confortável e andando em T-O-D-O-S os postos de hidratação. Conversando, torcendo para o pessoal que conhecíamos, reclamando algumas horas (óbvio), já pensando na nossa chegada e desejando cada posto de hidratação.
Aceitamos que naquela hora eramos gêmeas, a torcida nos incentivava e diziam que estávamos fazendo um Good Job! Caçávamos fotógrafos para registrar esse momento (em Kona carece um pouco disso) e quando pensávamos no que estávamos vivendo começávamos a chorar.
Pegamos o por-do-sol no Energy lab, que foi a coisa mais linda do Mundo, pegamos a Queen K escura, ficamos com medo de torcer o pé por não conseguir enxergar nada, e morríamos de dó de quem ainda estava indo para o energy lab.
No final começamos a nos empolgar e aumentar o ritmo, mas com a prova nas costas sentíamos que era desnecessário, chegaríamos 3′ mais rápido e mais quebrada. Seguimos então no ritmo nos preparando para a chegada. A Yana queria chegar a abraçada, mas eu a convenci que não seria uma boa ideia, certamente iriamos cair no tapete de chegada com o Mundo nos assistindo.
Quando viramos na Alii Drive a emoção tomou conta, agarrei na mão da Yana e só soltei depois do pórtico. Foi um dos momentos mais mágicos que eu poderia ter vivido.
O que não vem ao caso, mas como sei que tem muita gente que gosta de saber. TEMPOS:
Natação: 58’43
Ciclismo: 6h26’04
Corrida: 4h42’39”
Total: 12h14’52 (eu e a yana conseguimos sair com o mesmo resultado, batemos o pé no mesmo tempo! e batemos nosso recorde mundial pessoal de ironman mais lerdo, mas o mais especial!)
Eu agradeço imensamente a Yana que me fez correr atrás, conquistar a vaga e pagar por ela. Ao meu pai e minha mãe que super nos incentivam, acredito que deve ter sido demais eles verem a nossa foto da chegada! Agradeço aos dois pneus furados na prova, que fizeram ela ter esse final perfeito! Agradeço a GlobalVita/ Amazing Runs pelo incentivo e ajuda para ir para o Hawaii. E as empresas que fazem parte do meu dia-a-dia Puma, Cia Athletica, Bula Verdde, Academia Nado Livre, Integral Médica e Webtreino.
Esse é o race report no resumo do resumo do resumo do resumo da minha prova.
Vou seguir registrando momentos e aprendizados que tive em Kona! Aguardem os próximos posts!
MAHALO!