Eu tenho duas coisas que eu sempre quero que aconteçam e nunca acontecem. 1) O mar encrespar na etapa da natação em uma prova de triathlon. Quem sabe nadar em mar, tem muita vantagem! 2) Ter piriri (vulgo dor de barriga) para dar uma limpada e secada.
Ontem o mar encrespou tanto que a natação foi cancelada 10′ antes da largada. A correnteza estava muito forte e com certeza alguns atletas iriam sumir no mar… nem as bóias conseguiram entrar.
O piriri veio, mas em uma hora não conveniente. Foram 4 paradas no banheiro e 180km com cólicas estomacais. Eu juro que que posso comer um boi estragado que não me dá nada, e cólica não tenho nem pré-menstruação. #Foiosso
Mas vamos ao race report.
NATAÇÃO:
Estávamos já no funil para entrar no curral da largada. Um frio incrível, estava com meia no pé na areia gelada e a roupa de borracha coloquei uma hora antes da largada para ficar quentinha. 10′ antes da largada, sem ter tido nenhum burburinho questionando a natação, a organização anuncia o cancelamento inédito da etapa na prova. Minha vontade era chorar. Eu tenho trauma de duathlon, mas graças ao bom Deus eles não colocaram etapa de corrida antes do ciclismo, largamos de dois em dois direto para os 180km de bike.
CICLISMO:
A largada passou das 07h para as 08h. E eu devo ter largado 08h20. Foi uma hora de espera tremendo de frio e na agonia. O início do pedal foi bem tranquilo até sairmos da beira-mar. O vento se fez presente em boa parte do ciclismo, partes a favor, partes laterais e partes contra. O percurso é bem bacana, sinalizado, apenas 10km com problemas no asfalto, que acredito eu foi parte mais chata. Já no início no primeiros 50km fiz a minha primeira parada no banheiro. Pedalei com cólica e fiquei com mil e um pensamentos na cabeça. Fiquei com medo de comer, pois achava que iria piorar. Mas não deixei de comer, testei. A batata deu uma segurada e o waffle da powerbar não piorou as coisas, pelo contrário, segurou as minhas energias. Também morri de medo de desidratar, caprichei na hidratação. Com o frio não suamos, o sal ia virando areia na perna. Pedalei com o meu conjunto de prova, manguito, casaco e luva, e não senti calor! A segunda parada foi por um cartão que levei no stop and go, foram 4′. Achei que poderia ir no banheiro, mas tive que esperar os 4′ e aí sim ir fazer o que eu queria…. Foi cagada o cartão, estava tentando ultrapassar uma mulher e não consegui, aí quando eu desisti a motinho estava do meu lado :/
Faltando 40km para acabar, continuava com a perna ótima, mas a cólica voltou a pegar. Como estava acabando me concentrei para aguentar até a transição. Mas não teve jeito. Achei melhor parar e me aliviar do que ficar sofrendo mais 1h pela frente. Faltando 25km fui pela terceira vez no banheiro. Tirando a cólica, me senti bem no pedal, estava com a perna boa e consegui ficar boa parte do percurso no clipe, praticamente inteiro. No km 90 achei que não iria acabar a prova. Mas aí comecei a pensar na medalha e tudo o que eu tinha feito até aqui, seria muito injusto eu não cruzar a linha de chegada. Então comecei a fortalecer a minha cabeça, achei que iria terminar a prova para 14h, andando, e estava pronta para isso. O pedal terminou com tempo alto 06h05min40, e chegou a hora da corrida…
CORRIDA:
Logo quando eu desci da bike já vi que as coisas iam bem…. Sai correndo, peguei a sacola da corrida e fui correndo para a tenda de troca. Sai correndo leve. Mas a barriga pegou…. Continuei firme por 1 milha e no primeiro posto de hidratação fiz a minha 4ª parada, e última para a minha sorte!!!! Meu Garmin deu tiuti tive que reiniciar na etapa da corrida e quando dei start ele não estava pegando os km, nem distância nem pace. Resolvi ir daquele jeito mesmo e ir só controlando o tempo total para controlar a alimentação e ir correndo pela sensação. Confesso que me bati com a marcação em milha…. a primeira perna da volta parecia uma eternidade. Foram duas voltas de 21km. Aí fui controlando pelo tempo total mais ou menos quanto iria dar a maratona. Os primeiros 10km geralmente são uma delícia, dos 10 aos 20km passou rápido, porque era a volta do caminho e aí a gente já sabia o caminho. Agora dos 20km aos 30km foi onde eu quebrei em Kona, morri de medo. Mas fiz a prova em um ritmo constante, e ainda consegui forçar nos últimos 10km para conseguir minha tão desejada maratona sub4h. Era incrível passar um monte de gente nos últimos 10km e todos gritaram: “Go Girl, You look strong!”, nem sei se o pace melhorou no final, porque geralmente a gente faz mais força para conseguir manter o mesmo pace. Mas só de eu conseguir correr os 42km me sentindo bem, leve e com a corrida fluindo foi incrível. 3h54min24s Eu só lembrava do Doc Gustavo Macgliocca e do meu técnico Fábio Bronze, eles acreditavam mais na minha corrida que eu. Essa foi para vocês!
E o dia que eu achava que seria muiiiiito longo, foi um dia marcado na história. Mesmo sofrendo no pedal, pensando de verdade em desistir, ressurgi das trevas e dominei a minha cabeça, marquei minha melhor maratona até então. Isso porque todo Ironman é uma prova, uma história, um desafio e uma lição de vida. A prova que era para ser a mais rápida de todas nesta edição estava átipica, mas estava para todos os 3mil atletas. E o negócio é entrar e surfar a onda…. Feliz com o resultado, 2º lugar na categoria, 09′ de desvantagem e quase uma vaga para KONA. Um troféu de IM gringo não é pouca coisa…. E vamos em frente!
Obrigada à todos a torcida, os pensamentos positivos e o carinho. É muito bom receber isso!
Beijos para todos! 😉
#100daystoironmanDONE